domingo, 22 de março de 2009
O pai do Teatro português
Tornou-se, então, responsável pela organização dos eventos palacianos. Dona Leonor pediu ao dramaturgo a repetição da peça pelas matinas de Natal, mas o autor, considerando que a ocasião pedia outro tratamento, escreveu o Auto Pastoril Castelhano. De facto, o Auto da Visitação tem elementos claramente inspirados na "adoração dos pastores", de acordo com os relatos do nascimento de Cristo. A encenação incluía um ofertório de prendas simples e rústicas, como queijos, ao futuro rei, ao qual se pressagiavam grandes feitos. Gil Vicente que, além de ter escrito a peça, também a encenou e representou, usou, contudo, o quadro religioso natalício numa perspectiva profana. Perante o interesse de Dona Leonor, que se tornou a sua grande protectora nos anos seguintes, Gil Vicente teve a noção de que o seu talento lhe permitiria mais do que adaptar simplesmente a peça para ocasiões diversas, ainda que semelhantes.
Se foi realmente ourives, terminou a sua obra-prima nesta arte - a Custódia de Belém - feita para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1506, produzida com o primeiro ouro vindo de Moçambique. Três anos depois, este mesmo ourives tornou-se vedor do património de ourivesaria no Convento de Cristo, em Tomar, Nossa Senhora de Belém e no Hospital de Todos-os-Santos, em Lisboa.
Consegue-se ainda apurar algumas datas em relação a esta personagem que tanto pode ser uma como múltiplas: em 1511 é nomeado vassalo de el-Rei e, um ano depois, sabe-se que era representante da bandeira dos ourives na "Casa dos Vinte e Quatro". Em 1513, o mestre da balança da Casa da Moeda, também de nome de Gil Vicente (se é o mesmo ou não, como já se disse, não se sabe), foi eleito pelos outros mestres para os representar junto à vereação de Lisboa.
Será ele que dirigirá os festejos em honra de Dona Leonor, a terceira mulher de Dom Manuel, no ano de 1520, um ano antes de passar a servir Dom João III, conseguindo o prestígio do qual se valeria para se permitir a satirizar o clero e a nobreza nas suas obras ou mesmo para se dirigir ao monarca criticando as suas opções. Foi o que fez em 1531, através de uma carta ao rei onde defende os cristãos-novos.
Morreu em lugar desconhecido, talvez em 1536 porque é a partir desta data que se deixa de encontrar qualquer referência ao seu nome nos documentos da época, além de ter deixado de escrever a partir desta data.
O que é o teatro?
O teatro é uma arte em que um actor, ou conjunto de actores, interpreta uma história ou actividades, com auxílio de dramaturgos, directores e técnicos, que têm como objetivo apresentar uma situação e despertar sentimentos no público.
Toda reflexão que tenha o drama como objecto precisa de se apoiar numa tríade teatral: quem vê, o que se vê, e o imaginado. O teatro é um fenómeno que existe nos espaços do presente e do imaginário, e nos tempos individuais e colectivos que se formam neste espaço.
O vocábulo grego Théatron estabelece o lugar físico do espectador, "lugar onde se vê". Entretanto o teatro também é o lugar onde acontece o drama frente aos espectadores, complemento real e imaginário que acontece no local de representação. Ele surgiu, supõe-se, na Grécia antiga, no século IV a.C.
"Procurou-se encontrar um modo rigoroso de falar de uma arte que se caracteriza pela confluência de diversas linguagens, pela efemeridade das suas práticas e pela repercussão social e cultural que possui.As principais dificuldades encontradas foram obviamente as que se prendiam com a massa de informação relevante a gerir. Na verdade, não existe uma história do teatro, existem histórias do teatro consoante as perspectivas pelas quais abordamos essa forma de expressão artística da humanidade. Optei então por construir um discurso, composto de palavras e imagens, através das respostas às perguntas encerradas na pergunta que dá nome à exposição: O que é o teatro? Do significado original da palavra até à memorabilia que também constitui o teatro evanescente, é possível ficar a saber o que ele é descobrindo quem o faz e porquê, onde é feito, quem o vê, quem cria condições para que exista, como é feito, de que modo se relaciona com as artes, que lugares ocupa na vida da sociedade (...)"
Maria João Brilhante, Centro de estudos de Teatro